O jornalista Ricardo Kotscho ironiza, no artigo Aécio vai à praia, Serra reaparece e Lobão reclama, o
desapontamento do cantor Lobão com a ausência do senador Aécio Neves
(PSDB-MG) no protesto pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff no
último sábado, convocado pelo tucano. Segundo ele, bastaria ter lido a
coluna de Ancelmo Gois, no sábado, para saber que no dia do protesto em
São Paulo, Aécio curtia a praia em Santa Catarina.
Leia abaixo o texto de Kotscho:
"Cadê os parlamentares? Cadê o Aécio, cadê o Caiado? Estou pagando de otário!".
A queixa do roqueiro performático Lobão, agora transformado em
garoto propaganda das manifestações contra o governo, tinha sua razão de
ser. Afinal, foi o próprio candidato derrotado Aécio Neves, em
pessoa, acompanhado por outros expoentes tucanos, quem convocou o
protesto de sábado, na avenida Paulista, em São Paulo.
Era o quinto ato (favor não confundir com o Ato Institucional nº 5
dos militares, de 1968, o golpe dentro do golpe) contra Dilma, o seu
governo e o PT, depois das eleições. Se tivesse lido a coluna de Ancelmo
Gois publicada no jornal O Globo, no mesmo dia, Lobão teria a resposta
nesta nota: "Descanso _ Aécio e família descansam em Santa Catarina,
onde ele obteve dois terços dos votos". Ninguém é de ferro.
Quer dizer, Aécio convocou a turma e, em seguida, se mandou para a
praia, deixando Lobão na mão. Na avenida, sua tropa ficou dividida
entre os que pregavam a volta dos militares e os que apenas queriam
denunciar corrupção na Petrobras para impedir que Dilma assuma seu
segundo mandato. Para surpresa geral, quem apareceu foi outro senador, o
paulista José Serra, que andava sumido, principal antagonista de Aécio
dentro do PSDB.
Já na reta final da caminhada, que reuniu entre 5 mil (segundo
Folha e Estadão) e 8 mil pessoas (para O Globo), conforme o veículo e o
PM ouvido pela reportagem, Serra subiu num carro de som e mandou ver,
num tom misterioso: "As coisas não vão se resolver em uma semana, um mês
ou um ano. Mas precisamos estar prontos para o imprevisto, para o
improvável. Não há história sem fatos inesperados", alertou, sem entrar
em detalhes. Serra acompanhou a ala principal dos manifestantes
pacíficos, que foram até a praça Roosevelt, na região central, enquanto a
dissidência pró-golpe seguia em direção ao Comando Militar do Leste, no
Ibirapuera.
Na véspera da votação das mudanças na LDO, na madrugada de
quinta-feira, em que a oposição mais uma vez saiu derrotada, Aécio foi
mais duro do que seu rival, ao mesmo tempo premonitório e ameaçador:
"Nós vamos perder, mas vamos sangrar estes caras até de madrugada".
Aécio, que nem chegou a votar contra o governo, limitou-se a publicar
uma foto do protesto em seu facebook.
Na manifestação do final da tarde de sábado, não correu sangue,
mas enquanto o chefe descansava em Santa Catarina, seus seguidores
mostraram os dentes em cartazes e palavras de ordem: "Fora, Dilma!" e
"Impeachment! Fora, PT!" eram os mais democráticos.
O governo Dilma, como sabemos todos, está cheio de problemas para
montar a equipe do segundo mandato, mas se depender desta oposição,
agora liderada por Aécio Neves, podemos ficar tranquilos. Pela
demonstração dada no quinto ato de protesto, esta oposição faz oposição a
si mesma.
Até Lobão já está irritado com seus novos líderes.
Brasil 247
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