Podemos considerar um filho de Serra da Raíz, pela sua História de vida e ligação forte com nossa terra, raízes fortes através de seus pais, pela forma carinhosa com que fala da terra de Iniguaçu. Dr. Antônio Cavalcante fala de uma realidade ainda "desconhecida" da cultura de Serra da Raíz.
Quanta honra me coube em apresentar a nova edição do romance A tragédia do major, do
Padre Luís Gonzaga de Oliveira, no centenário de nascimento do autor.
Subir a Serra da Raiz e reencontrar tantos a quem quero tanto bem,
partilhar as companhias ilustres do renomado jornalista Gonzaga
Rodrigues e do Presidente da Academia Paraibana de Letras, Damião Ramos
Cavalcanti, sem falar nos familiares do Major João Marques, protagonista
do romance, e os do Padre Luís Gonzaga, tudo foi motivo de enorme
alegria.
Um testemunho, porém, chamou-me especial atenção. Em seu
pronunciamento, a escritora Ângela Bezerra de Castro preferiu o risco do
improviso ao discurso escrito. Deixando fluir a mais sincera emoção,
como diria Thiago de Mello, desfraldou publicamente um canto de
admiração pelo Padre Luís, seu professor de Latim, quando ela ainda era
adolescente. E revelou uma confidência que o professor lhe fez naqueles
tempos. Depois de perguntar o que ela pensava sobre o assunto, o mestre
segredou-lhe não ser a favor do celibato para os padres, capaz de
fazer da solidão a principal companhia de um sacerdote em determinados
momentos da vida. Aquela confissão às avessas fez crescer a admiração da
aluna pelo mestre. Mais do que a imagem do homem de batina, diante
daquela jovem sobressaía a figura do brilhante professor, que vivia a
vocação sacerdotal, sem apelar para a pieguice religiosa.
Confesso que eu já fazia um alto conceito do romancista cuja obra
apresentei. Mesmo alto, não era maior do que convém, como recomenda a
Carta de Paulo aos Romanos. E com aquele depoimento da professora
Ângela, o prestígio do padre Luís, na minha avaliação pessoal, aumentou
ainda mais. Não apenas por questionar o celibato, com o qual também não
concordo, da forma que é adotado em nossa Igreja. Pois bem sei que não é
qualquer um que tem condição de vivê-lo como um dom, para cuidar das
coisas de Deus com o coração alegre e indiviso. Mas por eu também ser
avesso à pieguice religiosa.
Não que meu coração seja infenso aos fluxos e refluxos das emoções.
Muito menos falo mal da pieguice por medo de parecer ridículo, pois
nunca me negaria a escrever uma carta de amor, e como diz o poeta
Fernando Pessoa, “as cartas de amor, se há amor, têm de ser ridículas.” A
pieguice que me repugna é a lambuzada na gosma da hipocrisia. Fingir
para os outros aquilo que não se sente, palavra que sai da boca, mas não
fala do que o coração está cheio. E se isso é um mal nos dramas do amor
humano, muito mais grave se torna quando contamina as relações do ser
humano com Deus.
O amor sem fingimento, de que fala a mesma epístola de Paulo, bela
carta de amor não só aos romanos, mas a todos os humanos, é o amor dos
que abençoam e não amaldiçoam, dos que se alegram com a alegria alheia e
choram o choro do irmão. É o amor do cuidado e carinho mútuos, amor
hospitaleiro que, como Deus, não faz acepção de pessoas; amor sem
pretensão de grandeza ou vaidade, em que ninguém dá a si mesmo ares de
sábio, mas a principal preocupação é fazer o que é bom e viver em paz,
na medida do que de cada um depende.
Naquela tarde de homenagens, na Serra da Copaoba, pelos testemunhos
que ouvi de quem com ele conviveu, pude perceber que o Padre Luís, na
vida de muitas pessoas, praticou gestos do amor sem fingimento, de que
fala a Carta de Paulo. Eu, que não o conheci em vida, ao menos tive a
honra de conhecê-lo pelas páginas do romance. E também pude perceber em
sua literatura, a virtude realçada na homenagem da acadêmica Angêla de
Castro. Uma prosa que cria personagens de alma grande e muitas vezes
assume o tom memorialista, numa linguagem que passeia entre o erudito e
o popular, sem apelar para a pieguice. Ou como diz o belo comentário de
José Américo de Almeida, transcrito na orelha do livro: “Aparece tudo
de portas abertas, como foi feito, sem qualquer nota de escândalo, sem
aventuras nem malícias, e, desse modo, não provocará ruído. Sinceridade
não é sensacionalismo.”
Antonio Cavacante, Professor da UEPB e Juiz do Trabalho
com Nordeste1
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